Foto: Carlos Borges
A região do Xingu, no sudoeste do Pará, abriga a maior área eclesiástica da igreja católica no Brasil, em termos geográficos. Em um território de 365 mil quilômetros quadrados, ficam 800 comunidades e apenas 27 padres para atender a demanda. Os dados são do bispo dom Erwin Kräutler, que coordena a diocese da região. Em recente entrevista ao portal de notícias G1 Pará, ele falou sobre o pedido, feito ao Papa Francisco, de que padres casados atuem nas localidades excluídas.
As normas da Igreja Católica estabelecem que quem decide se casar não deixa de ser padre, mas perde o direito de celebrar alguns rituais da religião. Em audiência privada com o pontífice no mês de abril, dom Erwin apresentou a situação e recebeu a orientação de que os bispos brasileiros elaborem propostas “corajosas”. A disposição do Papa para discutir temas polêmicos na Igreja tem sido um dos diferenciais em sua postura.
Em entrevista coletiva de maio, ele foi questionado sobre o celibato obrigatório dos sacerdotes. O assunto voltou à tona após, também neste ano, um grupo de 26 mulheres apaixonadas por padres enviarem uma carta ao Vaticano pedindo que um “um vínculo tão forte e bonito” deixasse de ser proibido. “A Igreja Católica tem padres casados. Católicos gregos, católicos coptas, existem no rito oriental. Por que não é um debate sobre um dogma, mas sobre uma regra de vida que eu aprecio muito e que é um dom para a Igreja. Por não ser um dogma da fé, a porta sempre está aberta”, declarou.
Para dom Erwin, não há obstáculos, do ponto de vista teológico, para que as pessoas que presidem a Eucaristia possam exercer durante a semana sua profissão e serem pais de família. “Não se trata de opor-se ao celibato de quem tiver feito essa opção consciente e madura. Trata-se da Eucaristia e da escolha de pessoas que seriam ordenadas para presidi-la”, argumentou. Segundo ele, 70% das comunidades estão excluídas da celebração eucarística dominical.
“Causa-nos uma profunda dor ver milhares de pessoas excluídas da eucaristia”, disse o bispo, que também preside o Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Dom Erwin espera que o assunto entre na pauta da próxima Assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em abril de 2015. No entanto, o padre Paulo da Silva, secretário executivo da Regional Norte 2 da CNBB, acredita que o tópico não terá muito destaque no encontro. “Haverá reflexão em torno da questão, mas não está prevista nenhuma grande discussão”, adiantou.
O presidente da regional, dom Jesus Maria Cizaurre Berdonces, comentou que a atuação de padres casados é uma questão delicada, pois trata de uma decisão muito pessoal. “O sacerdócio de homens casados já é uma prática na igreja oriental, mas aqui não temos essa tradição. Acho que seria mais viável ordenar padres que já eram casados e depois buscaram o sacerdócio, como ocorre na igreja latina, do que aceitar de volta padres que saíram e casaram”, observou.
No Brasil, o Movimento das Famílias dos Padres Casados (MFPC) contabiliza mais de cinco mil padres associados, mas não divulga números específicos sobre a região Norte ou o Pará. A CNBB afirmou também não ter estimativas locais. Sobre a falta de assistência em muitos pontos do Estado, dom Jesus destacou a importância dos leigos. “Penso que a força da igreja não está tanto nos padres, apesar da indiscutível relevância deles, mas é fundamental atentar para os leigos”, reforçou.