Professora indica consumo de 300g de açaí todos os dias (Foto: Alzyr Quaresma)
Os benefícios reais do
consumo do açaí ainda estão sendo desvendados. O que todo paraense sabe,
no entanto, é que a polpa é uma delícia, com ou sem seus tradicionais
acompanhamentos. Pesquisa da professora Claudine Maria Alves Feio, do
Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará, comprova
que o açaí pode atuar na prevenção de doenças cardiovasculares. Que
maravilha, hein?
As doenças cardiovasculares (DCV) são
responsáveis por, aproximadamente, 50% das mortes em países ocidentais.
Estima-se que dois terços das mortes por DCV ocorram em países em
desenvolvimento, como o Brasil, taxa que corresponde ao dobro da taxa
observada em países desenvolvidos.
No País, a principal causa de morte ainda é o
acidente vascular cerebral (AVC), entretanto, em alguns locais, como o
Estado de São Paulo, o perfil de mortalidade se assemelha ao de países
mais desenvolvidos, ou seja, a maior mortalidade decorre da doença
aterosclerótica ou doença arterial coronariana, que é caracterizada pelo
estreitamento dos vasos que suprem o coração em decorrência do
espessamento da camada interna da artéria devido ao acúmulo de placas de
gordura.
A doença aterosclerótica se desenvolve em
virtude de depósitos de gordura, colesterol, cálcio, colágeno e outros
materiais sobre a parede das artérias, formando placas, que podem
crescer restringindo o fluxo sanguíneo ou podem se romper levando à
formação de coágulos que podem ocasionar a obstrução do fluxo sanguíneo
e, em última análise, o infarto.
O Brasil é o maior produtor, consumidor e
exportador de açaí, bebida rica em gorduras mono e poli-insaturadas,
fitosteróis, antioxidantes e fibras. Um litro de açaí do tipo médio
contém 33 vezes mais antocianinas do que um litro de vinho tinto, por
exemplo.
Predominante na Região Norte, o Pará é
responsável por 95% da produção de açaí do País, calculada em 100 a 180
mil litros/dia só em Belém.
A bebida é normalmente comercializada à temperatura ambiente ou na forma congelada. (Cézar Magalhães)
Ação vasodilatadora, anti-hipertensiva e anti-inflamatória
"Nós ingerimos o açaí, mas não temos noção
do valor nutricional que ele tem. Apesar de possuir um alto teor de
gorduras, a maioria é de boa qualidade (60%, são monoinsaturadas e 13%
são poli-insaturadas), que são gorduras benéficas ao organismo, porque
diminuem os níveis de colesterol LDL (colesterol ruim) e ajudam a
aumentar os níveis de colesterol HDL (colesterol bom), auxiliando,
assim, na proteção do sistema cardiovascular", explica a professora
Claudine Feio, que defendeu tese de doutorado sobre o tema na Escola de
Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
De acordo com a professora, o alimento também tem ação vasodilatadora, anti-hipertensiva, anti-inflamatória, além de reduzir as desordens metabólicas.
"O açaí é uma fruta de grande valor energético, rico em valores
nutricionais e até mesmo funcionais. A sua ingestão deve ser o mais
natural possível e em substituição a pequenas refeições", afirma.
O estudo foi desenvolvido durante três anos,
com 30 coelhos da raça Nova Zelândia, os quais permaneceram 15 dias em
adaptação. Após este período, foram coletados 10 ml de sangue total para
as dosagens laboratoriais basais, ou seja, em condições normais, com
menor possibilidade de interferência. A ração consumida anteriormente
foi substituída por uma ração enriquecida com colesterol a 0,5%, para
indução do aumento do colesterol no sangue dos animais e consequente
desenvolvimento de aterosclerose, por um período de três meses. Após
novas determinações laboratoriais e verificação dos níveis de
colesterol, os animais foram aleatoriamente alocados em dois grupos, o
grupo I (açaí) e o grupo II (controle).
Os dois grupos continuaram a receber dietas
enriquecidas com colesterol. Para o grupo I, foi adicionado 80 ml de
açaí/dia e água, e para o grupo II, somente água.
Após 12 semanas deste tratamento, foi
realizada nova coleta de sangue para avaliação dos parâmetros. Nesse
momento, os animais foram sacrificados, retirando-se a artéria aorta em
toda a sua extensão para quantificação da área ocupada por placas de
gordura. A aterosclerose induzida pela dieta rica em colesterol foi
significantemente atenuada na artéria aórtica dos coelhos que tiveram
açaí em suas dietas.
CONSUMO DIÁRIO
Claudine Feio afirma que o estudo pode ser
estendido às pessoas obedecendo a certas condições: o alimento deve ser
consumido sem adição de açúcar, farinha e outros ingredientes. "O açaí
deve ser consumido puro para, desta forma, agir como um suplemento
alimentar que proteja contra doenças cardiovasculares. A adição de
ingredientes como o açúcar ou a farinha deixam o alimento hipercalórico,
atenuando, deste modo, sua ação benéfica," explica.
A professora afirma, também, que, dentro
dessas condições, o açaí consumido diariamente e de forma moderada traz
inúmeros benefícios para a saúde. Segundo ela, para uma pessoa que pese
em média 60 Kg, o consumo ideal seria em torno de 300g de açaí todos os
dias. "O açaí é rico em sais minerais, zinco, magnésio, ferro, então,
não é necessário adicionar nenhum outro elemento. Como em nosso Estado o
consumo de açaí é elevado, esta pesquisa sugere uma ótima notícia para a
população," festeja.
MERENDA ESCOLAR
A pesquisadora defende que o alimento faça
parte da merenda escolar. "Atualmente, os alunos consomem macarronada,
feijão com charque e outros alimentos gordurosos que induzem a elevação
do colesterol. Por que então não usar o açaí, sem exagero, como lanche
nas escolas, já que ele traz tantos benefícios para a saúde?
Nutricionalmente é melhor e, economicamente, é até mais viável," propõe.
Para aqueles que deixaram de consumir o açaí
por medo da doença de Chagas, a professora esclarece: não há relação
direta entre a fruta e a doença. "Normalmente, os surtos da doença de
Chagas acontecem quando a lavagem do açaí não é feita corretamente.
Assim como acontece no Pará, acontece em outros Estados com o caldo de
cana, o suco de goiaba, entre outros alimentos. Então, o problema é a
falta de higiene e não o fruto," afirma.
Segundo Claudine Feio, além da importância
alimentar, como suplemento, o consumo elevado também beneficiaria a
economia local. "Muitas vezes, pessoas de outros Estados e até de outros
países valorizam mais nossos alimentos do que nós que os temos com
tanta facilidade. Precisamos começar a valorizar o que é nosso,"
conclui.
Fonte: diarioonline.com.br